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Mantinha do Ego

Pequenos retalhos que cobrem o alvorecer de dois quotidianos...

Mantinha do Ego

Pequenos retalhos que cobrem o alvorecer de dois quotidianos...

29.08.18

Um dia terei uma biblioteca para sonhar


Alexandra Delgado

Gosto ler...

 

Cada página de livro que folheio é uma oportunidade de viajar num mundo que se constrói pelas palavras que me enchem o olhar.

 

Entre cada enredo das histórias que consumo, conheço novas pessoas e lugares. Crio os meus mundos de evasão!

 

Há histórias que guardo com particular carinho e aconchego na minha memória. Deixaram marcas que me levaram à reflexão e, de alguma forma, transformaram-me enquanto leitora.

 

Dos últimos livros que li, um deles deu-me a oportunidade de viver essas histórias.

 

Viajei até à 2.ª Guerra Mundial quando devorei o livro de Viktor E. Frankl. Coincidentemente, estava na Polónia durante essa leitura e tinha visitado Auschwitz três dias antes de ser consumida por aquela experiência emocionalmente devastadora.

 

Entre as páginas que percorria, com um aperto no coração por ler o testemunho de uma dessas vitimas da loucura e insanidade de um homem, eis que há uma passagem que fiz questão de guardar e onde se lê o seguinte:

 

«Nós tínhamos muito sofrimento para enfrentar. Era necessário, por isso, encarar toda a dimensão do sofrimento, tentando reduzir ao mínimo os momentos de fraqueza e de lágrimas furtivas. Mas não era preciso ter vergonha das lágrimas, pois elas eram a prova viva de que um homem tinha a maior das coragens, a coragem de sofrer».

 

 

Sinto-me invadida por uma enorme tristeza quando releio estas palavras, mas, ao mesmo tempo, há força naquilo que leio. Força da capacidade de superação. Força para sobreviver!

 

Continua da seguinte forma:

 

«Só uma pequena minoria percebia isso. Alguns confessavam ocasionalmente, envergonhados, que tinham chorado, como aquele camarada que respondeu à minha questão sobre como tinha superado o edema, confessando:'Expulsei-o à custa de lágrimas'».

 

 

São palavras que chocam e que ferem. São emoções avassaladoras e testemunhos de dor. São vidas que ficaram registadas entre as linhas de um livro qualquer, que trazem até mim uma reflexão sobre a coragem.

 

Viajei, chorei, arrepiei-me, sorri e senti aperto e alívio enquanto lia cada página... É uma viagem que tem um valor incalculável. É uma descoberta de histórias de vida que me despertam para o mundo em que vivo. São encontros com um passado que não queremos que fique esquecido. 

 

Estas histórias simbolizam esperança, coragem, força, determinação e mostram que as lágrimas têm poder. Significam que estamos vivos e que temos emoções. Por isso é que gosto de ler. Torna-me mais humana, mais sensível e mais completa.

 

Um dia, terei uma biblioteca cheia de livros e aí viverei todos os sonhos que o Homem pode imaginar!

 

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Citações in O Homem em busca de um sentido, Viktor E. Frankl