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Mantinha do Ego

Pequenos retalhos que cobrem o alvorecer de dois quotidianos...

Mantinha do Ego

Pequenos retalhos que cobrem o alvorecer de dois quotidianos...

20.03.20

Pode sempre ser pior


Lúcia Costa

Sinto que estamos numa corrida para chegar à lua. Só que desta vez trata-se de uma fórmula química que destroi um bichinho mal disposto qualquer, com a mania que é rei, com uma coroa na cabeça. Espero que se chegue rápido, porque todos nós precisamos disso. Estamos fechados em casa, passamos de seres presenciais para seres digitais. Já antes éramos um bocadinho, mas agora chegamos aos 100% de upload. A poluição desceu para níveis que há muito não eram registados, o núcleo familiar passou a ser o nosso mundo. Com tempo de manhã à noite entre quatro paredes e com janelas para um mundo que ainda desconhecemos e que nos dá um bocadinho de medo.

O futuro é sempre incerto, mas o nosso futuro será algo que ficará registado nos livros de história daqui a não muitos anos e nos ficará tatuado na pele.

Não é uma guerra como as que assistimos pela TV ou ouvimos falar e contar relatos. O meu avô contava do racionamento de comida na segunda guerra mundial, o meu pai da guerra colonial e agora, nós. Seres insípidos que até há uma semana tinham, na sua maioria, uma vida perfeita, com pouco tempo para pensar na essência das coisas. Esta guerra invisível que travamos cada vez que nos cruzamos com alguém na rua e que o seu respirar nos faz estremecer por todos os poros, talvez nos transforme em seres mais humanos.

Agora, após apenas alguns dias de isolamento voluntário, penso como será bom voltar a abraçar aqueles de quem gostamos, voltar a andar na rua sem medo que alguém tussa ou espirre. Ou que alguém tenha pegado no pacote de massa que compramos e o tenha contaminado com o tal virus de que tanto se fala. Talvez nenhum de nós volte a ser quem era. Talvez seja esta a mudança que a humanidade precisa para se lembrar dos valores que se foram esquecendo e tornando dispensáveis. Penso como será agradável um jantar com toda a gente de quem gostamos, o riso, as piadas, os olhares, a cumplicidade, os copos entornados. Há sempre alguém que parte alguma coisa nestes jantares. E há sempre alguém que diz que dá sorte. Penso numa ida ao cinema com a sala cheia e com alguém a comer pipocas de boca aberta, coisa que se devia mesmo proibir de acontecer para sempre, entre outras coisas.

Enfim...

Na realidade a primavera aproxima-se, e com ela as rinites e sinusites, e logo depois o verão, que isto de abril águas mil ficou no século passado. Os dias vão crescer já na próxima semana. O verde-esperança vai começar a luzir pelas janelas, e nós, habitantes confinados à nossa casa, nunca eu tinha usufruído tanto da minha, vamos habituar-nos, arranjar estratégias, adaptarmo-nos, melhorar, enquanto aproveitamos para fazermos uma atualização às nossas prioridades e modo de vida, que é por isso que somos a espécie dominante. Alguns vamos passar por momentos difíceis, alguns vamos ter só medo, mas vamos recuperar, vamos ultrapassar e vamos voltar a viver. Entretanto, sejamos responsáveis, altruístas, solidários e resilientes. Que o mundo continua a ser lindo, mesmo visto pela janela. E é nestas alturas que descobrimos a beleza de ser humano.

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